Não podia deixar de começar por uma das partes mais emocionantes do dia do nascimento do Enrique, além do parto, que foi a despedida da nossa, até então, filha única Maya.

Como foi doloroso dizer tchau para nossa princesinha, mesmo que ela tenha compreendido de forma tão madura o momento desesperador de corrermos para a maternidade, se arrumando tão rapidamente para ir às pressas para os queridos vizinhos e dizendo toda feliz: “é hoje que meu irmão vai nascer?”

Me lembro claramente como se fosse hoje, dia 23/dez/2017, às 07h10 da manhã, quando disse “tchau filha, te amo, mamãe vai pra maternidade pois seu irmão está chegando”, seguido de um abraço apertado. E acredito que me lembrarei para sempre da sensação daquele momento, mesmo sem qualquer foto registrada. Um sentimento de felicidade com medo, pois não sabia como seria a nossa família com mais um integrante. Tinha dúvidas de como seria a maternidade com 2 filhos. Estava nervosa se conseguiria dividir meu coração em 2, se eu seria suficiente para cada um. Ao mesmo tempo não queria ir, não queria deixar minha “bebê”, a única bebê que eu conhecia até aquele dia. Por 6 anos fomos só nós duas na relação mãe-filha, duas parceirinhas, amigas, companheiras de rotina. Eu só queria abraçá-la, apertá-la, abraçá-la mais, beijá-la, chorar um pouquinho… antes de torná-la a irmã mais velha.

No entanto, chegava a hora de adicionar mais um amor em nossa família. E foi às 5h da manhã que o Enrique deu sinal de que queria nascer, quando iniciaram as contrações pra valer.

Na verdade, 2 dias antes eu estava tão ansiosa achando que já era hora, quando no final da tarde do dia 21 as contrações de treinamento me enganaram (e à Juliana EO e à Jussara doula também, que foram em casa me avaliar – alarme falso!). Talvez fosse apenas uma preparação, pois ao longo do dia seguinte meu tampão começou a sair, em pequenas doses de secreção, sem qualquer sinal de trabalho de parto ou dor de contração. Por isso, na noite do dia 22 por volta das 22h, a Camila EO e a Jussara doula foram novamente me avaliar (sempre com o receio de que o segundo filho costuma nascer mais rápido). Confesso que nós 3 (eu, Rafa e Maya) estávamos no shopping, caminhando e comendo, para estimular a entrada em trabalho de parto, mas voltamos rapidinho pra casa. Nesta avaliação só foi constatado que meu colo estava bem fino, mas ainda sem qualquer dilatação (claro que a presença das duas em casa nos confortou e nos divertiu, pois conversamos bastante e demos risada, principalmente com a situação que o Rafa havia quebrado o dedinho do pé ao acordar assustado com uma ligação neste dia ansioso – e a Camila o imobilizou com carinho de enfermeira). No final, como recomendação: se alimente e descanse!

E foi isso que meu marido e eu fizemos, fomos dormir. Por volta das 3h da madrugada levantei incomodada, mas nada que um xixi não resolvesse e me permitisse voltar a dormir. Já às 5h da manhã o desconforto foi maior, algo comparado ao início do trabalho de parto da Maya, que na época durou umas 16 horas. Então resolvi levantar, acordar o Rafa e começar a contar as contrações para compartilhar com a equipe do parto. Às 6h30 eu já tinha tomado banho para relaxar a dor na lombar e preparava o café da manhã enquanto a Camila EO e a Jussara doula estavam a caminho de casa. Elas chegaram às 7h10, Camila me examinou e no mesmo instante nos fizeram correr: eu estava de 7 para 8 cm de dilatação!! Desespero, pois se em 2 horas (quando senti as contrações de trabalho de parto) eu havia dilatado quase 8 cm, a preocupação era o tempo que teríamos para a etapa de expulsão.

Rafa estava terminando o banho, Maya dormia, eu me vestia e a Jussara nos apressava, com a preocupação de que o segundo vem mais rápido. Bem, Rafa acordou a Maya, vivemos aquele momento de despedida que comentei no começo e partimos. Com o pisca alerta ligado, fomos do Horto Florestal ao Paraíso em 20 min. E com tanto buraco nas ruas, a bolsa estourou no carro (sorte que eu estava sentada em uma toalha). Me lembro da Jussara falar: “Dani, quando vier uma contração, respira e segura”. Ah, e como eu xinguei o Rafa: “Vai rápido amor, mas cuidado com os buracos, vai mais devagaaaaar” (me desculpa, Ra! rsrs)

Chegamos na maternidade às 7h40 e neste momento eu sentia uma dor intensa, de uma forma diferente do trabalho de parto da Maya. Passamos pela triagem e sempre que eu olhava para qualquer lugar via a Camila e a Jussara por perto, como minhas guardiãs. Mesmo não sendo “marinheira de primeira viagem”, elas me passavam muita segurança por estarem ali, zelando por mim e pela humanização dos procedimentos.

Em poucos minutos estávamos na sala de parto, me lembro de ir direto para o banheiro lavar meu rosto na pia, eu sentia muito calor. Na contração senti a massagem mágica da Jussara. Apoiada na pia vi o rostinho da Dra. Livia (minha querida obstetra), que acabava de chegar com aquele sorriso carinhoso. Da pia fui andando até a cama, onde me apoiei e agachei de olhos fechados. Dali rastejei até a banqueta, quando vi meu marido sentado pertinho dela. Me sentei, olhei ao redor e vi a Dra. Livia, a Camila, a Jussara, a Dra. Fernanda (obstetra também) e a Dra. Mariana (pediatra). Fechei novamente os olhos, ouvi alguém sussurrar em meus ouvidos que eu estava indo super bem e que o Enrique estava chegando (foi a Dra. Livia), e logo depois senti o melhor toque em meus ombros, que me trouxeram segurança e conforto (era meu parceiro, meu amor, meu marido Rafa) me dando forças para trazer nosso filho ao mundo. Duas forças, dois empurrões, dois gritos tipo “Juma Marruá do Pantanal” (rs) e o Enrique nasceu! Às 8h50 do dia 23/dez/2017, com 3,850kg e 50cm, com 41 semanas de gestação, de parto natural, sem anestesia, sem episiotomia, sem laceração, humanizado e mamiferizado.

Que intenso, que rápido (4h de TP), que diferente, que forte, que emocionante, que medo de nascer no carro, que confortante ter uma equipe maravilhosa e humana, que segurança e alegria em ter meu marido participando ativamente deste momento, que bênção o poder de dar à luz ao nosso bebê e me permitir embalá-lo em seus primeiros segundos de vida!

Jamais me esquecerei do abraço de despedida em nossa filha, da massagem mágica da Jussara, do cuidado especial e do líquido refrescante da Camila, do sussurro motivador da Dra. Livia, do apoio encantador da Dra. Fernanda, do carinho e dedicação da Dra. Mariana, do suporte, da segurança e do conforto de meu marido, meu eterno amor Rafa, da alegria na voz de nossa filha ao ser avisada sobre a chegada do irmão e da redescoberta do nascimento pela multiplicação do amor em nossa família com a nova vida, o nosso filho Enrique!