A maioria dos bebês nascem bem e devem ir direto para o colo da sua mãe, independente da via de parto (normal ou cesárea, seja ela eletiva ou por real indicação). Esse contato pele a pele ao nascer tem importância na concretização da construção simbólica de quem é esse bebê gestado por 40 semanas, além de possibilitar o imprinting, que é o reconhecimento da mãe feito pelo recém nascido.

E como ficam as avaliações e exames do recém-nascido?
Tudo isso pode – ou pelo menos deveria – esperar.

Logo após o nascimento, o bebê é colocado sobre o tórax da mãe em contato pele a pele. Esse momento é conhecido como a hora dourada (golden hour), quando mãe e bebê vão finalmente se conhecer fora do útero e a não interferência deve ser prezada o máximo possível.

As maternidades normalmente seguem protocolos e as avaliações e intervenções realizadas fazem parte de uma rotina, que muitas vezes podem ser avaliadas individualmente se são realmente necessárias. Por essa razão é importante incluir em seu plano de parto suas expectativas em relação aos cuidados com o bebê no pós-parto imediato. Faça a pergunta para você mesma: Se puder escolher, a quais procedimentos você espera que seu bebê seja ou não submetido?

Muitas vezes a família opta por contratar um pediatra particular pois consegue alinhar, ainda durante a gestação, a prática com as expectativas sobre o atendimento em sala de parto, buscando garantir um olhar individualizado e tempo dedicado exclusivamente aquele bebê e àquela família. Já o plantonista muitas vezes tem que seguir com uma rotina mais engessada e além disso não terá disponibilidade para observar e orientar as primeiras mamadas e nem aguardar para avaliação rotineira após a hora dourada, pois muitas vezes precisa atender os bebês que estão nascendo quase ao mesmo tempo.

O importante é que gestante e acompanhante estejam informados sobre os exames e procedimentos que serão realizados. Vamos falar sobre as principais dúvidas que recebo no consultório?

O bebê nasce e já precisa cortar o cordão umbilical?
Não, a Organização Mundial de Saúde recomenda que o clampeamento do cordão umbilical deve ser realizado tardiamente, entre 60 e 180 segundos após o nascimento ou quando cessarem as pulsações no cordão. O principal benefício de aguardar é que, durante esse intervalo, parte do sangue contido ali é transmitido para o bebê, prevenindo anemia.

Como o pediatra vai avaliar para o bebê se está no colo da mãe e pontuar o Apgar?
O Apgar, que são duas notas que o neonatologista dá, avalia os batimentos cardíacos, respiração, o reflexo, o tônus e o choro do bebê.  As notas variam de 0 a 10. A primeira nota é dada no primeiro minuto e a segunda nota, no quinto minuto de vida. A avaliação para pontuação do Apgar pode ser realizada com o recém nascido no colo da mãe.

Precisa de aspiração das vias aéreas?
Não de forma rotineira. A maioria dos bebês nasce bem e esses não vão precisar de aspiração.

E o colírio que aplicam nos olhos do bebê? É necessário?
O colírio de nitrato de prata (credé) protege contra a oftalmia causada pela Neisseria gonorrhoeae, bactéria da infecção popularmente conhecida como gonorréia. Ela só é transmitida para o recém nascido se a mãe apresentar infecção e ele tiver contato com a secreção vaginal durante o parto normal. Entretanto na prática, ele é aplicado rotineiramente até nos bebês nascidos de cesárea eletiva. O colírio é irritativo e pode causar conjuntivite química no bebê.

E a vitamina K pra que serve?
Já a vitamina K é administrada na sala de parto para prevenir a hemorragia no recém-nascido. Há pais que optam ofertar por via oral, mas para isso precisam comprar a vitamina K pois ela só é oferecida nos hospitais de forma injetável. Atualmente, nesse contexto de pandemia, a forma oral está em falta no mercado desde janeiro de 2020, e não é a melhor opção pedir para manipular pois tem que refrigerar além de exigir outros cuidados. Quando os pais optam por ofertar via oral, a primeria dose é realizada no hospital, mas precisa repetir com 7 e 30 dias de vida, se tornando inviável atualmente por não conseguir encontrar para comprar.

E as vacinas?
A vacina de hepatite B é aplicada nas primeiras 12 horas de vida do bebê para protegê-lo contra a transmissão vertical (a mãe portadora contamina o bebê durante o parto). As mães que fizeram acompanhamento pré-natal regular e não são portadoras da hepatite B, podem optar por adiar a vacina da hepatite B por alguns dias ou aplicar ainda na maternidade porém mais tardiamente.

Já a vacina BCG, nem toda maternidade oferece e a recomendação é que seja aplicada até 30 dias após nascimento.

Quando o bebê vai ser pesado e medido?
Essa avaliação pode esperar a golden hour. Essas avaliações devem ser feitas nas primeiras 24 horas de vida do bebê.

Depois de sair da sala de parto, o bebê tem que ir para o berçário?
Em algumas maternidades os bebês vão para o berçário para receber banho e ficar em ‘observação’, o que não é necessário. O melhor lugar para o recém nascido é junto da mãe. No berçário, eles ficam em um berço aquecido para manter sua temperatura corpórea, o que poderia ser feito no colo da mãe ou de algum familiar.

E o primeiro banho, quando é dado?
A Sociedade Brasileira de Pediatra recomenda atualmente pelo menos 24 horas sem banho, pois além de favorecer uma microbiota boa (familiar), o recém nascido precisa se adaptar à nova temperatura e absorver o vérnix. O vérnix é uma substância pastosa que recobre a pele do recém nascido, protegendo-a. No ambiente extra uterino, o vérnix lubrifica e hidrata a pele, além de ajudar a regular a temperatura do bebê, diminuir a descamação e o risco de infecção do bebê. Se for opção dar o primeiro banho no hospital, este deveria ser realizado dentro do quarto, por algum membro da família, sob orientação da equipe do hospital.

Tem mais alguma dúvida sobre os cuidados com o bebê no pós-parto imediato?
Deixe aqui o seu comentário.

* Texto produzido por mim com a revisão da pediatra Thaís Tubero (@thaistubero.ped)